... ULFA no Brasil dá suporte à nova etapa da formação feminista para a construção de Territórios de Cuidado, Luta e Sustentação da Vida

Coletivos feministas brasileiros iniciam neste dia 9 de outubro nova etapa da construção de Territórios de Cuidado, Luta e Sustentação da Vida.

Radicar territórios de cuidado, luta e sustentação da vida é uma estratégia que vem sendo construída coletivamente entre CFEMEA, Coletivo de Mulheres do Calafate - CMC, Mulheres Cuidando e Movimentando Territórios – MCMT, Movimento de Educação e Cultura da Estrutural - MECE para viabilizar novas formas de convivência e compartilhamento da existência, que gerem renda e aliviem a desigual e injusta carga de trabalho imposta às mulheres, quase sempre negras, nas periferias urbanas. A ULFA, nesta nova etapa de formação feminista, dá suporte para a construção de alternativas auto-organizadas e autogestionárias que enfrentem a dissociação entre trabalho produtivo e reprodutivo, e rompam com as hierarquias que exploram e submetem o poder de decisão das mulheres e oprimid@s.

Após 15 anos de experimentações e desenvolvimento de metodologias apropriadas de autocuidado e cuidado entre ativistas, a equipe do Centro Feminista de Estudos e Assessoria – CFEMEA, que se multiplicou em coletivos, movimentos e redes (como a das Tecelãs do Cuidado, em grupos feministas dentro de movimentos sociais, como o Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras sem Terra – MST, Pastoral da Terra, Coletiva de Autocuidado e Cuidado Coletivo da Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB, com Kunangue Aty Guasu, no Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos entre outros), tomou a iniciativa e convidou três territórios (coletivos) que vinham nesta mesma trajetória a dar um passo além para a criação de uma nova metodologia para a sustentação da vida e organização feminista em áreas periféricas dos centros urbanos.


Inspirada em reflexões a partir da economia feminista, a proposta é simples e complexa ao mesmo tempo. A equipe do Cfemea somada às mulheres do Coletivo de Mulheres do Calafate - CMC (Salvador, Bahia), com o Coletivo de Mulheres Construindo e Movimentando Territórios – MCMT (Rio de Janeiro), e com o Movimento de Educação e Cultura da Estrutural - MECE (Cidade Estrutural, Distrito Federal), estão gestando uma proposta de metodologia para a criação de empresas coletivas autogestionárias formadas majoritariamente e dirigidas por mulheres nas periferias como alternativa de geração de renda e sustentação da vida, da luta e do cuidado coletivo.

 

Coletivo de Mulheres do Calafate preparando a imersão - 2024

O que esses coletivos querem é criar um meio que possa se multiplicar para a produção de alternativas econômicas que tirem as mulheres da periferia da miséria social e econômica que torna suas vidas insustentáveis, subordinadas à dor e às violências machista, racista, patriarcal, institucional e estrutural.

Esses coletivos estão criando uma metodologia própria a partir de sua leitura e experiência com duas metodologias mestras: a) metodologia do autocuidado e cuidado coletivo entre ativistas desenvolvida nos últimos 15 anos pelo Cfemea e parceiras, b) metodologia dos laboratórios organizacionais desenvolvida pelo brasileiro Clodomir Santos de Morais e companheiros e companheiras das Américas, de África e Ásia entre os anos 1960 e 2010.

Foto de um laboratório organizacional de terreno realizado em 1992 em Matzinho, Moçambique

Dentre as várias propostas de geração de renda ofertadas por políticas de alcance muito limitado para as mulheres pobres das periferias, a maioria se orienta a ações individualistas, competitivas e hierárquicas, que acabam por invisibilizar, desconsiderar e hiper-explorar o trabalho reprodutivo das mulheres, além de culpá-las se o empreendimento fracassar, aumentando sua dor e fragilizando ainda mais sua capacidade de ação nas comunidades às quais pertencem e seus grupos familiares.

O que as mulheres desses quatro coletivos (CFEMEA, CMC, MCMT e MECE) querem é criar condições para que essas organizações nas periferias urbanas, majoritariamente formados por mulheres negras, muito pobres, várias com pouca escolaridade, superem coletivamente as limitações que lhes são impostas por um sistema capitalista patriarcal, misógino, racista e excludente, e possam criar alternativas econômicas que não lhes obriguem a abandonar suas práticas e responsabilidades de cuidado e não as impeça de continuar ativas nas lutas feministas antirracistas, comunitárias e sociais, resistindo e gerando alternativas para o bem viver

 

Coletivo de Mulheres Construindo e Movimentando Territórios - Rio de Janeiro-RJ

Essa proposta foi sendo construída em 2023 a partir de várias reuniões entre esses coletivos e aprofundada em uma reunião intensiva realizada em dezembro daquele ano em Brasília. A partir de então, esses coletivos iniciaram um processo de formação híbrido (presencial e virtual) durante os nove primeiros meses do 2024 utilizando a plataforma de aprendizagem virtual (com base no Moodle) da Universidade Livre Feminista Antirracista.

Ao mesmo tempo em que se fortalecia o debate interno entre essas organizações e coletivos feministas, foram realizadas reuniões com vários ministérios do Governo Federal, fundações e instituições apoiadoras da sociedade civil, parlamentares e lideranças institucionais e de movimentos sociais. Reuniões que deram à equipe do Cfemea compreender que se trata de um processo importante e com forte lógica interna, mas que ainda não geraram apoios materiais e financeiros significativos, requisitando ainda mais esforço coletivo nesse sentido.

 

Territórios na oficina de dezembro de 2023

Durante 2024, foram realizados processos intensos de debates, estudos, troca de saberes e de experiências que culminaram com imersões (etapas presenciais concentradas) em cada território, que orientaram a realização da etapa que se inicia agora.

No dia 9 de outubro começam a chegar em Brasília integrantes dos coletivos do Calafate, do MCMT do Rio de Janeiro e MECE, do Distrito Federal. Que ficarão reunidas durante quatro dias em um Laboratório Organizacional Feminista para Sustentação da Vida, visando a formação intensiva e contato com a metodologia dos laboratórios organizacionais, realizando as convergências com a metodologia do cuidado coletivo e autocuidado entre ativistas e utilizando o espaço próprio construído dentro da Universidade Livre Feminista Antirracista.

A expectativa é de que esse processo de formação imersiva e concentrada crie as condições para que as mulheres presentes constituam uma organização que dê sequência à formação para o planejamento, captação de recursos, apoios e organização do primeiro Laboratório Feminista para a Sustentação da Vida no Território durante o primeiro semestre de 2025.

A fase seguinte da formação, que começará já a partir de 14 de outubro e irá até 10 de dezembro, será realizada de forma híbrida, utilizando a ULFA e também realizando encontros presenciais em cada um dos Territórios.

Nesse período, além da formação das ativistas dos coletivos envolvidos, estaremos planejando o primeiro Laboratório de Território, intensificaremos a busca por recursos para viabilizá-los (além do planejado para o primeiro semestre de 2025, há a expectativa de realização de outros no segundo semestre), bem como os contatos para criação de uma base técnica e institucional de suporte da estratégia


Práticas culturais e escolarização de mulheres em Moçambique

 

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